Resenha do artigo: Psychobiotics: The Influence of Gut Microbiota on the Gut-Brain Axis in Neurological Disorders de Parvin Oroojazadeh; Saber yari Bostanabad e hajie Lotfi
Você já ouviu falar dos probióticos, certo? E quanto aos psicobióticos? O artigo de Oroojazadeh, Bostanabad e Lotfi (2022) procura investigar esse subconjunto de probióticos que vem demonstrando capacidade de influenciar positivamente na saúde mental dos indivíduos.
Mais precisamente, os psicobióticos são microorganismos capazes de manipular os sinais do eixo cérebro-intestino e promover efeitos benéficos nas funções neurológicas como humor, cognição e ansiedade e por esta razão têm sido investigados no campo da saúde mental. Os psicobióticos podem induzir a produção de neurotransmissores e neuro-hormônios com efeitos psicotrópicos. Devido ao potencial de ação nesta área da saúde, os pesquisadores têm dedicado tempo e esforços para avaliar a capacidade desses microorganismos em tratar desordens psiquiátricas.
Os autores explicam que os efeitos probióticos no eixo cérebro – intestino podem ocorrer pela via bioquímica. Os probióticos afetam os níveis de serotonina, dopamina e GABA. Essas bactérias também conseguem indiretamente afetar a função do sistema nervoso central ao produzir metabólitos como o triptofano e cadeias curtas de ácidos graxos.
Por exemplo, foi observado que algumas cepas de Bifidobacterium e lactobacillus secretam GABA, sendo esse um importante neurotransmissor capaz de inibir o sistema nervoso central.
Os psicobióticos estão presentes, por exemplo, nos alimentos funcionais – como nos alimentos fermentados: kefir, tempeh, yogurtes – que são fontes ricas de probióticos.
Os pesquisadores desse estudo relatam benefícios dos psicobióticos nas desordens neurodegenerativas como na doença de Alzheimer e de Parkinson. Por exemplo, foi observado que o consumo por 16 semanas de uma mistura probiótica de B.bifidum, B.longum, L.Rhamnoses, Lactococcus lactis e L. plantarum protegeu a liberação de dopamina reduzindo as disfunções motoras causadas pela deterioração.
O artigo em questão chama a atenção para o fato de que a exposição crônica do indivíduo a agentes estressores provoca longa secreção de adrenalina, o que altera a composição da microbiota e torna o intestino mais permeável a bactérias e toxinas. Sabe-se que a microbiota intestinal de uma pessoa saudável é diferente da microbiota de um paciente com transtorno depressivo maior.
Pesquisas tem sido realizada com resultados promissores para utilização das bactérias em benefício da saúde mental. O artigo relata bons resultados obtidos para o tratamento da depressão, ansiedade, insônia, Alzheimer, Parkinson, distúrbios alimentares e até mesmo esquizofrenia, uma vez que a disbiose aumenta a inflamação sistêmica e que a neuroinflamação pode causar esquizofrenia.
Os autores do artigo e tantos outros pesquisadores da microbiota nos mostram que uma boa saúde mental pode ser promovida, dentre outras coisas, através de uma boa escolha alimentar. O consumo de alimentos saudáveis contendo probióticos – como os fermentados- tem um papel importante na prevenção de desordens do sistema nervoso central. Claro que maiores investigações precisam ser feitas. Ainda há muito o que ser descoberto no maravilhoso mundo do corpo humano!
Definindo Conceitos Importantes
Alimentos Funcionais: Qualquer alimento modificado ou nutriente que pode ser benéfico à saúde para além dos nutrientes tradicionalmente contidos.
Eixo Cérebro-Intestino: Vias neurais e gânglios ligando o Sistema Nervoso Central, Sistema Nervoso Entérico, Sistema Nervoso Autônomo e sistemas de comunicação.
Microbioma ou microbiota: Somatório dos micro-organismos que existem no organismo humano.
Probióticos: microrganismos vivos que conferem benefícios à saúde do hospedeiro, quando consumidos em quantidade adequada
Psicobióticos: são probióticos que conferem benefícios à saúde mental do hospedeiro quando ingeridos em uma determinada quantidade através da interação com a microbiota
Sistema Nervoso Entérico: Responsável principalmente pelo controle da motilidade digestória, que é exercido pela detecção de alterações nas paredes e no ambiente químico do trato gastrointestinal, de modo que estes estímulos causam respostas na musculatura lisa, em vasos sanguíneos e em glândulas secretoras da mucosa.
Ficha Técnica
Texto da resenha: Viviane Mega
Edição e revisão técnica: Danielle Paes Branco