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A consequência da falta de pesquisa no tratamento do TEA

19 de agosto de 2022

Resenha crítica do artigo “Abordagem psicofarmacológica no transtorno do espectro autista: uma revisão narrativa” escrito por Sebastião Neto, Decio Brunoni e Roberta Cysneiros, no ano de 2019.

Prejuízo, sofrimento do funcionamento, ou um aumento desse prejuízo e sofrimento, e disfunções psicológicas, comportamentais e biológicas quando contínuas, é a definição de transtorno psicológico dada por Barlow, Durand e Hofmann (2021). Compreender as bases de um transtorno, tanto quanto entender o contexto daquele indivíduo, faz com que seu diagnóstico e tratamento seja mais assertivo e menos invasivo ao paciente. Quanto mais informações unidas sobre cada transtorno, mais opções de tratamentos e mais efetividade nas escolhas dos profissionais de saúde em como proceder com cada paciente.

O artigo “Abordagem psicofarmacológica no transtorno do espectro autista: uma revisão narrativa” escrito por Sebastião Neto, Decio Brunoni e Roberta Cysneiros (2019), vai reunir informações acadêmicas sobre o TEA, o transtorno do espectro autista. Uma revisão literária de 37 artigos científicos, de inúmeras áreas da saúde, a base referencial do artigo traz riqueza no conteúdo mostrado pelos autores ao longo do artigo. Dados completos e bem reunidos, tabela e exemplos, são as demonstrações do objetivo principal do artigo, que é “revisar a abordagem psicofarmacológica em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista” (NETO, BRUNONI, CYSNEIROS, 2019).

O TEA, descrito através do DSM-V, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, é um quadro clínico que é caracterizado “por prejuízos na área social comunicativa e comportamental, com padrões de comportamentos, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados a estímulos sensoriais”. Geralmente acompanhado de outras comorbidades, os indivíduos com o transtorno podem ter ansiedade, depressão, distúrbios do sono, transtorno de déficit de atenção, convulsões e outros tipos de comorbidades, sejam psiquiátricas, cognitivas ou médicas. Os indivíduos podem apresentar também agressividade, hiperatividade, irritabilidade, comunicação prejudicada, entre outros.

Mostra a importância de um bom diagnóstico e um protocolo de investigação que seja o mais assertivo possível, o qual proporciona para os pacientes o melhor tratamento e manejo do TEA. O diagnóstico, nos dias de hoje é clínico, que quando ocorre o mais cedo possível na criança, acarreta um bom prognóstico. Já o protocolo de investigação se dá por uma “avaliação neuropsicológica e de linguagem por equipe multidisciplinar”, que junta conhecimentos de inúmeras áreas da saúde, sendo assim, diferentes fontes de conhecimento, assim como o artigo, para que esse paciente tenha o que se encaixa melhor no seu caso.

Para isso, é necessário um vasto campo científico com informações, estudos e pesquisas que guiem os profissionais de saúde para o caminho mais adequado dentro das circunstâncias e individualidades. O artigo aponta uma séria escassez de pesquisas em relação ao tratamento e aos psicofarmacológicos que podem ou não serem utilizados no TEA, assim como a efetividade desses medicamentos, seus efeitos colaterais e suas interações medicamentosas. Como o transtorno vem acompanhado de algumas comorbidades, saber os melhores remédios para o controle é o papel das organizações governamentais, que, como a Anvisa, autorizam e auxiliam os tratamentos para o Brasil. A mesma só autoriza dois medicamentos para o transtorno do espectro autista, a risperidona e periciazina, que na bula mostra poder ser usado no tratamento. No Brasil, sente-se a falta de um sistema que possa ser somente responsável por centralizar e controlar o fornecimento de medicamentos (NETO, BRUNONI, CYSNEIROS, 2019).

Dessa maneira, entendemos que uma das formas adjuvantes de tratar o TEA é pela combinação de psicofarmacológicos que manejam o transtorno, mas é de notoriedade compreender que existem outras formas de tratar o autismo, como as intervenções “comportamentais psicoterápicas, psicossociais e educacionais” que tem evidências de melhorias e avanços no tratamento, o que através dos medicamentos não se tem certeza pela falta de pesquisa. Levando os profissionais a, simultaneamente com as intervenções, usarem remédios não prescritos para o TEA em si, mas desenvolvidos para outras doenças, no tratamento de seus pacientes, o que chamam de “off label”.

Praticado pelos profissionais por sentirem a “ausência de clareza das diretrizes (…) e a carência de intervenções farmacológicas baseadas em evidências” (NETO, BRUNONI, CYSNEIROS, 2019), trata-se de prescrever remédios usados em outras comorbidades, como por exemplo um antiepiléptico, para os pacientes na hora de controlar ou diminuir os sintomas e os efeitos do TEA. É comum o uso de antidepressivos, antipsicóticos atípicos, os antiepilépticos, antagonistas do receptor de glutamato, inibidores da colinesterase e outros, os quais o artigo vai apresentar exemplos de cada remédio possível nas categorias citadas. O “off label” traz diversidade, como mostrado na única tabela que o artigo apresenta, que o permite ser específico em alguns sintomas e ter opções que se encaixem melhor em cada caso, dando aos profissionais a oportunidade de fazer escolhas.

Dessa forma, podemos perceber que artigos como esse tem extrema importância e merecem serem levados a debates e usados como um alerta para a comunidade científica. A escassez dos estudos atrapalha e atrasa diretamente o tratamento desses indivíduos e a chance deles terem remédios cientificamente provados de que são certeiros e vão oferecer melhorias, mesmo que mínimas. O passo de fazer a revisão narrativa é o primeiro para expansão do campo dessas pesquisas do TEA, mas também de outros assuntos que podem ser lembrados por não terem muitas informações oferecidas pelos órgãos e pela ciência no geral.

Definindo Conceitos Importantes

Psicofarmacologia: “substâncias medicamentosas ou recreacionais que atuam no sistema nervoso central e podem influenciar o estado psíquico do paciente ou usuário (…) têm o potencial de alterar comportamento, humor, cognição e etc” (HERRMANN, PIATO, LINCK, 2021)

Neuropsicologia: estuda “as funções do sistema nervoso e o comportamento humano, (…) intuito de relacionar a psicologia cognitiva com as neurociências” (PAULA, et al., 2006)

Prognóstico: diagnóstico do caso, acompanhado do tratamento ideal e caminhos possíveis, que deve ser feito de forma empática com o paciente e seus familiares (TOMA, OLIVEIRA, KANETA, 2014).

Equipe multidisciplinar: “integração de múltiplos olhares, saberes e ações (…) uma abordagem integral”, composta por vários profissionais da saúde, onde dentro de sua área de especialidade contribuirão nesse processo (NETO, BRUNONI, CYSNEIROS, 2019)

Referências Bibliográficas

BARLOW, D; DURAND, V; HOFMANN, S. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 3. ed. Cengage: São Paulo, 2020.

HERRMANN, A. P.; PIATO, A.; LINCK, V. Descomplicando a psicofarmacologia: psicofarmacos de uso clínico e recreacional. São Paulo: Blucher, 2021.

LAMPREIA, C. A perspectiva desenvolvimentista para a intervenção precoce no autismo. Estudos de Psicologia: Campinas, 2007. v. 24, n. 1. pp. 105-114. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0103-166X2007000100012 >.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico] / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2015.

NETO, S; BRUNONI, D; CYSNEIROS, R. Abordagem psicofarmacológica no transtorno do espectro autista: uma revisão narrativa. Cadernos de pós-graduação em distúrbios do desenvolvimento: São Paulo, 2019. v. 19. n. 2. p. 38-60.

PAULA, G; BEBER, B; BAGGIO, S; PETRY, T. Neuropsicologia da aprendizagem. Revista Psicopedagogia: São Paulo v. 23. n. 72. pp. 224-231. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000300006 >.

TOMA, M; OLIVEIRA, W; KANETA, C. Comunicação de prognóstico reservado ao paciente infantil. Revista Bioética [online]. v. 22, n. 3, pp. 540-549, 2014. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/1983-80422014223037 >.

Ficha Técnica

Texto da resenha: Luisa Blanc

Edição e revisão técnica: Luã Teixeira Guapyassú Câmara / Danielle Paes Branco

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