HomeNeurociênciaO que se tem a dizer hoje sobre a consciência?

O que se tem a dizer hoje sobre a consciência?

2 de maio de 2022

Resenha do artigo “A consciência: algumas concepções atuais sobre sua natureza, função e base neuroanatômica” de Maurício Marx e Silva et al (2003).

A consciência seria algo anterior ou posterior às ações e atitudes? Em primeiro caso, como um preparo à tomada de decisão, finalizar-se-ia num produto, uma consequência de laborações psíquicas. Não obstante, os autores do artigo aqui referenciado têm evidenciado a consciência como algo já constituinte ao próprio mecanismo de antecipação, sendo uma mensagem, mas também o mensageiro. Logo, a consciência seria algo unificado, e não dicotomizado como colocado em algumas vertentes que a estudam, concluindo-se num evento posterior às predições internas para o refinamento das tomadas de ações. Então, onde ela está?

Com o intuito de referenciar a consciência, o artigo “A consciência: algumas concepções atuais sobre sua natureza, função e base neuroanatômica” discorre claramente sobre as considerações atuais que estão em torno desse mistério, verificando-se algumas diferenciações ao que era postulado por estudos anteriores e demonstrando a complexidade sobre este assunto. Os autores, para localizar a consciência, partem do inconsciente, como alguns outros que para entender a morte conceituam a vida. Dessa forma, Freud entra em cena por ser o pioneiro nas difusões sobre esse mecanismo de fundo.

Num primeiro momento, por meio das evidências experimentais, ocorre uma distinção da consciência que na língua inglesa é mais compreensível, sendo ela classificada como: “wakefulness”, “conscience”, “consciousness”. A primeira se relaciona com o estado de vigília. A segunda tem a ver com um estado moral. E, então, a terceira se apresenta na sensação de passagem do tempo, ou seja, sentimento de existência. Esses conceitos são muito importantes para compreender o que se segue no artigo, pois alguns autores referenciados nele tentarão definir, logo, a consciência como um todo.

Um interessante diferenciador entre a wakefulness e a consciousness colocado pelos autores é quando um paciente em crise, ou seja, ainda em vigília, está concomitantemente sem a sensação de existir. Ou, quando em estado de sono, no sonho, as consciências de sensação de passagem do tempo e da implicância moral podem interferi-lo. Mais uma evidência no artigo dessa distinção é quando há a sensação de existir mesmo havendo perda de grandes partes do encéfalo, transitória ou definitiva, como bem colocam os autores. E, nesse sentido, advém mais um conceito, o de “consciência central” e “consciência ampliada”.

Vê-se, portanto, que o pensamento anterior sobre a consciência era faltoso na sua definição e caracterização, apresentando-se muitas surpresas a partir dos estudos sobre o assunto e que o artigo “A consciência: algumas concepções atuais sobre sua natureza, função e base neuroanatômica” intenta fornecer. Num segundo momento há um panorama histórico e evolutivo a fim de elucidar as partes responsáveis do processo de consciência e sua possível essencialidade que partilham nas espécies um lugar em comum: o tronco cerebral e o giro do cíngulo.

Em uma terceira parte, imbricam-se as questões da consciência com o inconsciente, da homeostase envolvida na consciência central, da integração de informações para uma única percepção e que tem por base as oscilações de 40 Hz e as memórias, visando identificar as diferentes consciências. Supõe-se que o Tálamo seja uma área fundamental no processo consciente por conectar todo o córtex, tanto quanto os núcleos intralaminares dele. Vale lembrar que não é em um lugar específico que a unidade consciente se realiza, mas sim na passagem do tempo em resposta às oscilações da frequência dos neurônios.

Tempo e espaço parece fazer parte da consciência, pois quando intercalada com a memória, o processo de rememoração está vinculado com a experimentação do evento passado, novamente, como se ocorresse no presente. E, mesmo que ocorra a codificação semântica, perceptual ou procedurais dos eventos experimentados no inconsciente, a vivência desses eventos só pode ser consciente, ou seja, sentida. E, já por isso, suscetíveis de repressão ao inconsciente. Logo, depreende-se que o intento no artigo passa pela consciência como um ou sucessivos episódios, sendo o próprio funcionamento, não o produto de dele.

Portanto, clarifica-se como complemento os processos que favoreçam obter repertório às antecipações que a consciência produz, reduzindo erros e aumentando o refinamento das tomadas de decisões. O artigo publicado de Maurício Marx e Silva et al está para leigos, mas principalmente aos estudiosos do assunto, pois há necessidade de conhecimento prévio para estabelecer um entendimento sistemático. Certamente que o estudo não visa terminar por ele mesmo, faltando com muitos outros conteúdos intervenientes, mas que servem de impulso para que sejam realizadas mais pesquisas da temática

Definindo Conceitos Importantes

Encéfalo: parte do sistema nervoso central, situada dentro do crânio. No encéfalo, temos cérebro (telencéfalo e diencéfalo), cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo).

Tronco cerebral ou tronco encefálico: Faz parte do encéfalo e é formado por um conjunto de três regiões: Mesencéfalo, Ponte e Bulbo. Está relacionado à regulação de funções fisiológicas. É origem de 10 pares de nervos cranianos.

Giro do Cíngulo: No lobo frontal, na face medial, encontramos o giro do cíngulo acima do corpo caloso. O giro do cíngulo é a região de maior metabolismo cortical, perdendo apenas para as áreas ativadas como o córtex visual.

Homeostase: Manutenção da vida em toda sua plenitude e dependente de um estado de equilíbrio interno.

Tálamo: Duas massas volumosas de substância cinzenta, de forma ovoide, dispostas uma de cada lado, na porção laterodorsal do diencéfalo. Está muito envolvido na sensibilidade, pois quase todos os impulsos sensitivos (menos os olfatórios) param em um núcleo talâmico antes de chegar ao córtex.

Núcleos intralaminares: Pequenas massas de substância cinzenta no interior da lâmina medular interna.

Referências Bibliográficas

BOARI COELHO, Daniel. Reflexões sobre a interação cérebro-máquina: muito além dos neurônios. Ciênc. cogn., Rio de Janeiro , v. 6, n. 1, p. 133-141, CORTEZ, Célia Martins; SILVA, Dilson. Fisiologia aplicada à psicologia. 1° Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

JOTZ, Geraldo Pereira; MARRONE, Antônio Carlos Huf; STEFANI, Marco Antônio; BIZZI, Jorge Junqueira; AQUINI, Mauro Guidotti. Neuroanatomia clínica e funcional: anatomia, fisiologia e patologia. 1. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia Funcional. 2. Ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2005.

SILVA, Maurício Marx e et al. A consciência: algumas concepções atuais sobre sua natureza, função e base neuroanatômica. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul. N. 25, Supl. 1. [meio digital], 2003. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-356459

Ficha Técnica

Texto da resenha: Ramon Santiago do Nascimento é aluno de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA). Contato: ramonsantiago352@gmail.com

Edição e revisão técnica: Luã Teixeira Guapyassú Câmara / Danielle Paes Branco

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