Resenha do artigo “Estudo das sequelas neuroanatômicas associadas à Síndrome Pós-Covid-19” de Marina Guimarães Bragatto et al (2021).
A experiência mundial da pandemia de Covid-19 revelou muitas contradições que se arrastam há tempos em diferentes setores e dimensões da sociedade. O que pode parecer novo, só é mais um resquício das interações entre os seres, positiva ou negativamente. Logo, juízos de valores dos mais diversos podem ser colocados. No entanto, é sabido que momentos como esses podem se repetir e com uma probabilidade preocupante. Não só no contexto macro das relações sociais, mas também no micro, com alterações e consequências fisiológicas, neuroanatômicas e afins foram sentidas pelos indivíduos nos diferentes continentes.
Marina et al (2021), no artigo “Estudo das sequelas neuroanatômicas associadas à Síndrome Pós-Covid-19”, contempla informações sobre o tipo de vírus SARS-COV-2 e as sintomatologias apresentadas na doença e posteriormente a ela, classificadas como síndrome pós-covid-19. Os autores iniciam com um panorama geral desse vírus, afunilando o assunto para, então, mencionar a temática, onde são apresentadas as complicações neurológicas mais frequentes nos discursos dos pacientes acometidos pela Covid-19. Essas complicações podem se tornar crônicas, até mesmo afetando a memória.
Os sintomas mais comuns relatados no estudo são cefaleia (dor de cabeça), anosmia (perda do olfato) e ageusia (perda do paladar). Mas antes de desencadear a resposta dos sistemas do corpo, ocorre todo um processo de entrada do vírus no corpo e, graças a uma proteína específica intitulada Spike (S), depois disso o vírus se acopla e adentra a célula hospedeira por meio do receptor ECA 2, uma enzima conversora de angiotensina. Essa enzima, conforme os autores estão presentes em muitos tecidos e na superfície de alguns órgãos.
Ainda, cabe ressaltar que até mesmo no cérebro essas enzimas se apresentam, começando aqui as implicações neuroanatômicas e que se manifestam em alguns indivíduos após a contaminação da SARS-CoV-2. Nesse sentido, no estudo é mencionado que o vírus pode infectar as células neurais no tronco encefálico, comprometendo centros importantes e decisivos na manutenção da vida. Também, de forma direta ou indireta, acarretando reações neuroinflamatórias que podem trazer encefalopatias pela ativação da micróglia, responsável pelos processos da bainha de mielina.
Importa mencionar que o vírus da doença da covid-19 pode afetar o Sistema Nervoso Central e Periférico e desencadear respostas neuroinflamatórias que rompe a barreia hematoencefálica, essa que protege o sistema nervoso de contaminações pelo sangue, causando desequilíbrios com consequências drásticas à saúde do indivíduo, podendo até trazer um quadro mais crônico e degenerativo. Também, esse vírus implica na atuação do ácido gama-aminoburítico, de acordo com os autores, podendo estar relacionado diretamente com a fadiga neuromotora, fadiga cognitiva, apatia, déficits executivos e de memória, destacando o atravessamento com o hipocampo.
Dessa forma, como pode ser destacado do estudo das sequelas neuroanatômicas associadas à síndrome pós-covid-19, as sequelas nos sujeitos podem ir além do período de infecção e incubação de um vírus, atingindo sistemas neurológicos e suas atividades, causando distúrbios e desequilíbrios ainda sem conclusões assertivas, mas com indícios relevantes. Por meio desse artigo, clarifica-se o quão importante é o estudo dos sistemas nervosos e seus relacionamentos com os outros sistemas do corpo, trazendo luz sobre os processos fisiológicos e neuroanatômicos que podem se repetir em outras contaminações.
Com uma revisão de pouca complexidade, o artigo se dirige para além dos acadêmicos, necessitando, antes, apenas de um entendimento denotativo de alguns conceitos específicos da área da saúde. Muitos estudos ainda estão sendo realizados por ser um evento atual e que ainda se movimento através dos que já foram publicados e isso é mencionado pelos autores, demonstrando zelo pela constante atualização, o que traz cada vez mais aprimoramento sobre as consequências que das infecções, principalmente a do Covid-19 por ser o assunto temático, mas também para outras que mantém uma mesma ação imunológica.
Definindo Conceitos Importantes
Vírus: Agentes infecciosos que se propagam em uma célula hospedeira capaz de sustentar sua biossíntese; eles estão em um nível de complexidade inferior ao da célula mais primitiva, não tendo autonomia metabólica para obter sua própria energia e para se autorreplicar.
Receptor ECA 2: A angiotensina II, um dos mais potentes vasoconstritores, é extremamente ativa, produzindo um amplo espectro de ações fisiológicas. A vasoconstrição venosa aumenta o débito sistólico e a vasoconstrição arterial determina aumento da resistência vascular periférica, sendo esse conjunto de efeitos, por si só, capaz de restabelecer a pressão arterial.
Tronco encefálico: Faz parte do encéfalo e é formado por um conjunto de três regiões: Mesencéfalo, Ponte e Bulbo. Está relacionado à regulação de funções fisiológicas. É origem de 10 pares de nervos cranianos.
Micróglia: A microglia descende de células do saco vitelino que invadem o tecido nervoso durante o desenvolvimento. As células microgliais, por realizarem fagocitose, estão envolvidas na limpeza de detritos celulares e na retirada de axônios transitórios.
Bainha de mielina: Camada isolante que possibilita uma maior velocidade de condução do impulso nervoso e que envolve alguns axônios (prolongamentos dos neurônios). É produzida por células da glia: oligodendrócitos no sistema nervoso central e células de schwann no sistema nervoso periférico.
Barreira hematoencefálica: Interface altamente especializada que está disposta entre a circulação sanguínea e o sistema nervoso central. Essencial para a proteção do tecido cerebral e a preservação do homeostase do sistema nervoso central, mantendo a atividade neural estável e coordenada.
Hipocampo: [Corresponde] à parte filogeneticamente mais primitiva do telencéfalo. Localizado no interior do lobo temporal. Estrutura cerebral totalmente envolvida com a consolidação de memórias de longo termo (ou longo prazo), principalmente para informações verbais.
Referências Bibliográficas
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Ficha Técnica
Texto da resenha: Ramon Santiago do Nascimento é aluno de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA). Contato: ramonsantiago352@gmail.com
Edição e revisão técnica: Luã Teixeira Guapyassú Câmara / Danielle Paes Branco