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A arte do esquecer

20 de agosto de 2021

PINTAR CERTAS LEMBRANÇAS É TORNAR ARTE CERTOS ESQUECIMENTOS

Resenha do artigo “A arte do esquecer” de Iván Izquierdo, Lia R. M. Bevilaqua e Martín Cammarota (2006)

Esquecer pode trazer angústia. Porém, alguns autores demonstram o oposto, sendo a lembrança uma angústia. Certamente a memória é funcional para o cérebro e para as nossas vivências. Perceba que a primeira frase deste parágrafo provavelmente já foi esquecida, certo? Se lembrada, você provavelmente teve que olhá-la novamente. Decorre que essa memória teve a sua função exercida, possibilitando a associação e entendimento do contexto que se lê. Mas outras permanecem por longo período de tempo, contrariando as que podem ser esquecidas para sempre. E agora, de que lado ficar?

“A arte de esquecer” é um artigo que responde sobre como a memória mantém ou não as lembranças. Os autores conceituam os tipos de memórias, seus mecanismos e estruturas envolvidas. Destacam a saturação dos mecanismos da memória, as emoções, inexpressividades, extinção e repressão como fatores importantes no mantimento da memória ou de sua perda. E, como coloca os autores, “Por último, há o esquecimento real: memórias que desaparecem por falta de uso, com atrofia sináptica” (IZQUIERDO, BEVILAQUA, CAMMAROTA, 2006, pág. 2).

Os mecanismos da memória são os moleculares e que envolvem, no caso da extinção, estruturas cerebrais como o hipocampo, amígdala basolateral, córtex entorrinal e área pré-frontal. No caso da repressão, as estruturas envolvidas são o córtex pré-frontal ântero-lateral e hipocampo. Tanto a extinção como a repressão têm valores e finalidades adaptativas a fim de proteger o organismo. E, atravessando todos esses processos está o hipocampo. A sua inatividade está associada ao esquecimento pela repressão, enquanto que a evocação de memórias gera atividade no hipocampo.

Baseando-se nessas estruturas e mecanismos, as memórias são divididas em sensorial ou imediata, primário ou de curto prazo, secundária ou de longo prazo. Essas divisões são conceituadas pelos autores para destacar a perda real de memória, pois algumas delas podem voltar à tona, mesmo após um processo de extinção ou repressão. Por conta do envolvimento do hipocampo, cabe ressaltar o sistema límbico e seus atravessamentos na memória, pois a solidificação de algumas delas carregam funções afetivas.

Nesse contexto é que entra o esquecimento como arte, pois, como utilizada para tratar o medo aprendido pelo Freud, muitas memórias carregam um peso afetivo forte, capaz de implicar em transtornos, fobias, estresses e atividades disfuncionais afins. Muitas lembranças que carregam aspectos afetivos, quando revividas, trazem da mesma forma as emoções envolvidas. Dessa forma, a memória é imprescindível quando tem função. Porém, em caso contrário, o esquecimento também assim se classifica.

DEFININDO CONCEITOS IMPORTANTES:

  • Saturação: Ocorre quando todos os transportadores já estão ligados à substância que está difundida.
  • Extinção: Desvinculação de um estímulo condicionado do estímulo incondicionado com o qual tinha se associado e gerado uma resposta aprendida.
  • Repressão: Esta pode ser voluntária (cancelamento a evocação de memórias desagradáveis e prejudiciais) ou inconsciente (o cérebro faz isso por conta própria visando autoproteção).
  • Hipocampo: É uma estrutura cinzenta contorcida localizada no interior do giro parahipocampal, sendo proeminente no assoalho de cada um dos ventrículos laterais. Responsável pela formação de novas memórias.

Referências Bibliográficas

CORTEZ, Célia Martins; SILVA, Dilson. Fisiologia aplicada à psicologia. 1° Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

IZQUIERDO, Iván; BEVILAQUA, Lia R. M.; CAMMAROTA, Martín. A arte de esquecer. Estudos Avançados, 2006. P. 289 – 296. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142006000300024. Acesso em: 01 de Maio de 2021.

JÚNIOR, Carlos Alberto Mourão; ABRAMOV, Dimitri Marques. Fisiologia Humana. 2° Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

Ficha Técnica

Texto da resenha: Ramon Santiago do Nascimento

Edição e revisão técnica: Danielle Paes Branco

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